9 de junho de 2011

O Capítulo Extra Da Livraria Limítrofe

Desde o primeiro anúncio do projeto Livraria Limítrofe, muitas pessoas mostraram grande interesse nele, ao mesmo tempo em que demonstravam certa curiosidade a respeito do texto. Muitos me questionaram sobre o estilo, o como as coisas acontecem, a narrativa.

Pensando nisso, criei um capítulo extra da Livraria, para poder mostrar a todos um pouquinho do que pode acontecer no interior deste incomum estabelecimento. E convidei um grande amigo para fazer parte do texto: Adriano Siqueira. Não, ele não escreveu este capítulo, ele é simplesmente o narrador/protagonista! 

Rolou uma curiosidade? Então clique na imagem abaixo para baixar o PDF com esse capítulo extra: 


Se por acaso você tiver algum tipo de problema para baixar o arquivo do 4Shared, por gentileza solicite por e-mail (alfer.medeiros@gmail.com), e eu envio o PDF. Ele é bem leve, não tem nem 300KB.

Para quem prefere a leitura no próprio blog, segue abaixo o texto do capítulo extra, na íntegra. Boa leitura!





Vampiros Me Mordam!

O lançamento de livro estava bem legal. Lá estava eu com minha clássica camiseta preta do Drácula e a bolsa a tiracolo. Sempre que vou a eventos assim, revejo os amigos, conheço pessoalmente pessoas com as quais mantenho contato via internet e vou batendo um papo com pessoal novo. Resumindo: diversão garantida! É por isso que só não apareço em acontecimentos desse tipo se já tiver outro compromisso inadiável ou um imprevisto muito sério.

Chegou um momento no qual precisei me afastar da animada rodinha de bate-papo sobre lobisomens, porque precisava comer alguma coisa. O pessoal lá estava de boa, então acabei saindo sozinho, com o estômago urrando mais do que os licantropos da conversa. Mais cedo, quando cheguei ao local do evento, percebi que havia uma lanchonete a meio quarteirão de distância. Anotei mentalmente essa informação, pois sabia que seria útil, e foi mesmo: quando a fome bateu, aproveitei logo a informação armazenada.

Ao me dirigir à saída do prédio, notei um tipo de alçapão sobre o gramado interno que cercava o caminho pelo qual eu caminhava. Bem ao lado do portão de saída, estava com as portas duplas de madeira escancaradas e isso permitia ver a escada com degraus de madeira que levava a um tipo de subsolo, de onde escapava uma luz fraca. Era um porão, daqueles que a gente vê nos filmes norte-americanos, com uma saída para o quintal. 

Quando entrei no prédio, não havia percebido a existência desse porão. Que negócio maluco! Como não se vê algo assim todo dia, decidi dar uma conferida no ambiente subterrâneo. Se por acaso não fosse permitido circular por ali, alguém me avisaria, e eu sairia numa boa. Comecei a descer a escada, achando divertido o barulhinho que os degraus faziam quando eu pisava neles. Me senti num filminho de terror de Sessão da Tarde ao ouvir os rangidos da madeira. Precisei abaixar um pouco a cabeça para não bater na plaquinha pendurada sobre a escada, onde estava escrito "Livraria Limítrofe". Que bem louco! Uma livraria num porão! Grande sacada! Se eles aceitassem cartão de crédito, eu faria questão de comprar alguma coisa ali.

Cheguei ao piso inferior, com chão de terra batida e um bom espaço, maior do que eu pensava. O ambiente era iluminado por tochas penduradas nas paredes de pedra rústica e por velas sobre as mesas de madeira antiga que se espalhavam por ali. Pilhas de livros cobriam toda a parede do fundo, quase alcançando o teto baixo. Que clima bacana! Um tremendo visual! 

Será que eu podia tirar fotos? Sem pensar duas vezes, saquei a câmera fotográfica da minha inseparável bolsa e tentei pegar o ângulo mais amplo da livraria. Como o local estava com uma iluminação fraca, o flash da máquina saiu bem forte, como se tivesse passado um relâmpago pelo porão.

Enquanto checava no visorzinho se a foto havia ficado legal, notei uma movimentação vinda do canto mais afastado, à minha direita. Uma meia dúzia de caras, que eu não havia visto antes, começou a se aproximar. Ao passarem do lado de uma das tochas da parede mais próxima, notei que tinham a pele bem branca, e o mais alto deles sorriu, mostrando os caninos salientes.

– Opa, fala aí, pessoal! Tudo beleza? – cumprimentei a galera, feliz da vida, afinal deveriam ser fãs de vampiros, assim como eu. – Hoje tá rolando algum evento vampírico por aqui? Eu curto muito o assunto!

Os seis homens se entreolharam. Pareciam confusos e eram pouco amigáveis. Comecei a me arrepender de ter puxado conversa com eles.

– O que diz o estrangeiro aí? Não estou a perceber muito bem – falou um barbudo com sotaque português e um estranho brilho nos olhos.

– Que queres tu? – sussurrou um mais atarracado, com jeito de tiozão.

– Não, eu tô só de boa. Não precisam se preocupar comigo, porque já estou de saída – falando isso, virei para o lado da porta, já disposto a correr sem olhar para trás. Por incrível que pareça, o altão que estava junto dos outros um segundo antes estava parado em frente à saída, de braços cruzados. Eu não estava gostando nada daquilo. Será que eram arruaceiros querendo se divertir, me enchendo de porrada? Como ia explicar lá em casa que saí para um evento literário e voltei todo estourado? Eu precisava puxar assunto e acalmar o pessoal.

– Nossa, acho que ligaram o ar condicionado da loja na potência máxima – tentei sorrir.

– Não sei vocês, mas eu tô congelando. É que eu sou meio friorento, sabe como é?

– E o frio só vai piorar – disse o dos sussurros. Eles meio que me estudavam, pareciam não estar muito a vontade. Estavam deslocados, mais perdidos que cachorro em dia de mudança. Tinham algo de muito familiar, e eu tava quase me lembrando de onde os conhecia.

– Eu queria aproveitar e convidar vocês para a palestra que eu vou ministrar daqui a pouco, lá no prédio principal. Como vocês curtem esse lance de vampiro e tal, acho que vão gostar – o nervosismo me fazia tagarelar cada vez mais. – Trouxe até uns itens da minha coleção particular – saquei da bolsa alguns livros e a velha estaca de madeira que levo de vez em quando aos eventos.

– Cuidado, irmãos! – falou um rapaz entre eles, com os cabelos presos em rabo de cavalo. – Ele possui uma arma!

Imediatamente, todos assumiram uma postura defensiva. O que obstruía a saída descruzou os braços e o frio ficou ainda mais intenso. O mais novo deles, único que não parecia representar ameaça, simplesmente se afastou para as sombras. O baixinho da voz sussurrada permaneceu como estava, bem diferente do barbudo que tirava a roupa, do cabeludo que começou a me rodear de longe e do homem negro que – será que eu estava vendo direito? – se transformou em mim. Isso mesmo! O cara ficou igualzinho a mim! Se a intenção com isso era me confundir, ele conseguiu o que queria. Fiquei tão distraído com o meu clone que mal percebi o da barba se transformar em lobisomem.

Nesse momento, havia quatro deles se aproximando devagar, de maneira ameaçadora. Eu estava na tradicional situação onde se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Decidi então encarar a ameaça, porque eu sou é homem! Coloquei rapidamente os livros de volta na bolsa e empunhei a estaca da maneira mais ameaçadora que consegui, do alto do meu metro e sessenta de altura e com as mãos tremendo. Recuando, pensei em gritar por ajuda, mas isso não soaria muito másculo. Eu tinha uma reputação a zelar!

E foi assim, enquanto eu tentava bolar uma estratégia de defesa e pensava em como seria legal alguém me dar uma mãozinha, que o coroa surgiu do nada gritando:

– Para trás, criaturas das trevas! Não ousem atacar este cidadão indefeso! – ele tinha uma espada que parecia ser de prata em uma mão e uma réstia de alho na outra. A entrada triunfal do homem, surgindo do espaço às minhas costas, causou o efeito desejado. O cabeludo e o lobisomem recuaram, enquanto os outros dois apenas pararam seu avanço.

– Sejam cautelosos, irmãos – falou o da voz baixa. – Temos aqui um autêntico caçador, tão experiente quanto o nosso algoz de Portugal.

– Use este colar e coma um pouco também – o caçador estendeu para mim os alhos, sem tirar os olhos do grupo. – Pode ser de alguma ajuda.

– Pô, mas aí eu vou ficar com bafo... – respondi, pensando na palestra que iria acontecer dali a pouco.

– Acho que é hora de usar teus poderes – o mais alto se dirigia ao dos sussurros. – Traga ajuda extra, para que não percamos tempo com o velho paladino.

Entendendo bem a mensagem do outro, o homenzinho sorriu, tomou fôlego e começou a cantar um fado. Não estou de sacanagem, ele fez isso mesmo! Por um segundo, cheguei a pensar que ele queria espantar a gente com aquela cantoria gritada, mas de repente o chão começou a tremer e coisas que pareciam ser zumbis começaram a sair da terra. Acabei nem prestando muita atenção, porque um sétimo elemento demoníaco surgiu também, parecendo vir do meio do grupo. Foi aí que caiu a ficha. Contei de novo só para ter certeza. Um, dois, três, quatro... outro escondidinho ali... cinco, seis... o bicho feio voando... sete!

– Vamos fugir daqui enquanto há tempo. Sou um caçador experiente e combato há décadas o pior dos vampiros, mas eles têm a vantagem numérica – disse o coroa, em tom bem sério. – Siga-me!

Sou uma pessoa sincera, e por isso posso mandar a real pra vocês. Eu já tava ligado que aquilo era coisa de livro, apesar de não saber como os personagens tomavam forma. Mesmo assim, tava morrendo de medo, porque não é fácil ter uma horda de vampiros e zumbis querendo te pegar assim, ao vivo e em cores. Por causa disso, não pensei duas vezes e logo corri atrás do homem, na direção da parede lateral mais próxima onde havia uma porta de ferro. O caçador de vampiros abriu-a e pulamos lá para dentro. Durante toda a corrida, eu imaginava o lobisomem abocanhando meus calcanhares e me derrubando, e isso não foi nada agradável. Felizmente, deu tempo de fechar a porta pesada e deixar as criaturas do outro lado. Pensei que não conseguiríamos, porque não tenho muito fôlego – um dia ainda penso em largar o cigarro. Mas isso não vem ao caso agora.

O que importa é termos nos livrado das criaturas. As batidas na porta eram ensurdecedoras, mas ela parecia suportar o assédio dos vampiros e zumbis. Mesmo assim, resolvi me afastar o máximo daquela confusão toda. Coloquei minha estaca na bolsa e percebi que estava em uma espécie de corredor não muito longo, com portas de madeira dos dois lados. Umas quatro, se não me engano. Sob a iluminação de tochas, voltei-me ao meu salvador:

– Puxa, escapamos por pouco, hein amigo? Sabe que eu sou seu fã? Poderia me dar um autógrafo? – estranhando o que eu falava, o homem parecia me ver pela primeira vez.

– Mas que tipo de sortilégio é este? – falou, com os olhos arregalados fixos na minha camiseta. – Eu salvo sua vida, livrando-o das garras dos vampiros, mas você ostenta o nome do meu maior inimigo sobre o peito! Deve ser um de seus servos!

– Não, peraí, eu posso explicar. Não é isso que você está pensando.

– Água benta, alho e crucifixos não fazem efeito sobre servos humanos, mas minha espada pode muito bem dar conta de você! – falou, apontando a arma para mim.

Sinceramente, achei que dessa eu não escaparia. Por uma fração de segundo, pensei na ironia da situação: escapar de um terrível grupo de vampiros portugueses para acabar morto pelo maior caçador dessas criaturas, meu grande herói. O pior foi nem ter feito um testamento, definindo quem ficaria com a minha coleção de itens sobre vampirismo. 

Meus devaneios foram interrompidos pela abertura brusca de uma das portas, bem ao meu lado. Dela saiu um homem negro usando sobretudo e óculos escuros, uma lâmina em cada mão. Quem me conhece sabe que eu admiro muito esse cara e sempre achei que ele foi mal explorado nos quadrinhos. A sorte é que alguma mente iluminada de Hollywood teve o bom senso de lançá-lo como personagem principal de uma série de filmes. Não à toa, o caçador bem ali do meu lado tinha a cara do ator famoso que o interpretou na telona.

– Ei, ancião, deixe o homem em paz – falou o ex-figurante dos quadrinhos do Aranha.

– Americano tolo! Não vê que é um simpatizante das trevas? – o velho não estava pra brincadeira.

– Não permitirei que cometa uma injustiça como esta – retrucou o do sobretudo.

Pode parecer estranho, mas eu estava rindo. Os caras brigavam por minha causa! Me senti tão importante quanto uma princesa na masmorra aguardando o resultado do embate entre hábeis cavaleiros. Meus amigos, se estivessem ali para ver isso, com certeza tirariam muito sarro da minha cara. No momento em que os dois se prepararam para o embate, outra porta se abriu e fui puxado bruscamente para dentro de um cômodo, mais parecido com uma cripta.

Procurei quem havia me “sequestrado” e dei de cara com uma morena alta, com um traje vermelho mínimo mal cobrindo sua nudez e botas pretas. Quase caí pra trás! Era a mulher do planeta Drakulon, um monumento personificado com base nos traços originais de Frank Frazetta, e tinha mesmo a cara da Talisa Soto, a atriz que a interpretou no filme de 1996. Isso é que é resposta rápida! Quando pensei naquela situação da princesa sendo disputada pelos cavaleiros, notei que só tinha visto homem desde que havia entrado na livraria. E então surgiu a estonteante vampira para me consolar.

Aí sim tive certeza: o que estava rolando dentro da tal Livraria Limítrofe saía da minha imaginação. Será que era algum tipo de hipnotismo ou alucinação? Ou será que eu tinha adormecido em algum momento, e aquele era o sonho mais real que já tive na vida? Mesmo sem saber direito das respostas, decidi conhecer pessoalmente outra vampira ilustre. Pedi um minutinho à moça de (pouca) roupa vermelha e cabelos negros e pensei na personagem brasileira dos quadrinhos. Um segundo depois, entrava pela porta outra morena, com olhos claros, um vestido vermelho justíssimo.

– Olá, Adriano. Finalmente pudemos nos encontrar pessoalmente – a voz dela era ainda mais melodiosa do que eu imaginava.

– Oi. Já vou adiantando que estou com anemia e meu sangue tá fininho – era uma mentirinha, mas sempre é bom se garantir, né?

– Não se preocupe. Eu nunca o usaria como alimento – os traços do Eugênio Colonnese, transformados em uma vampira de carne e osso eram impressionantes! Eu estava hipnotizado.

– Esta mulher se parece bastante comigo – falou a primeira vampira.

– Parece sim – falei. – Como especialista no assunto, devo dizer que a brasileira surgiu primeiro, exatamente dois anos antes, ao contrário do que muitos pensam. Mas isso é conversa para uma outra hora. O papo tá muito bom, é muito legal estar com vocês aqui pessoalmente, porém eu tenho um compromisso lá fora. Ainda preciso fazer um lanche (algo sólido e sem hemoglobina).

– É uma pena. Não quer ficar mais um pouco? – disse a brasileira. A americana também parecia tristinha.

– Infelizmente, tenho de ir. Já devo estar atrasado para a palestra e a galera vai me matar se eu não cumprir o horário.

Me despedi das duas com um beijo no rosto e um abraço demorado e gelado. Restava apenas fazer desaparecer tudo o que criei. Fechei as pálpebras com força e comecei a massagear as têmporas com a ponta dos dedos. Isso, para mim, era a maior expressão de concentração que eu conhecia. Imaginei tudo aquilo desaparecendo. Ainda pesaroso por ter de ir embora, repeti milhares de vezes “Some tudo, menos as vampiras! Some tudo, menos as vampiras”.

Quando senti a temperatura voltar ao normal e o ar deixar de cheirar como uma catacumba, abri os olhos. Todo o ambiente tinha mudado e a Livraria Limítrofe passou a se parecer mais com uma livraria normal. Com estilo antigo, mas normal. À minha frente, um grande balcão de madeira. Atrás dele, olhando para mim sorridente, um senhorzinho de óculos.

– Senhor Adriano? Muito prazer – ele me cumprimentou com um aperto de mão.

– Oi, tudo bom? Viu duas vampiras bem sexies por aí? Ah... Qual é o seu nome?

– Pode me chamar de Livreiro. O senhor apreciou a visita?

– Pode me tratar por "você", senão eu fico sem graça. Curti muito o esquema da livraria! Sou fã de vampiros, e o que vi por aqui foi muito realístico.

– Serei sincero: não me sinto muito a vontade com a presença de tais seres – falou ele, meio sem jeito. – Fiquei apreensivo por todo o tempo que você deu vida a criaturas noturnas sugadoras de sangue.

– No começo foi tudo bem involuntário, mas depois eu peguei o jeito de como fazer surgir a galera dos livros, aí ficou tudo sob controle.

– Devo dizer que é muito raro uma pessoa aqui dentro ter tanto controle sobre as materializações – sorriu. – Na maioria das vezes preciso intervir, pois as coisas saem do controle. Por isso todos sumiram, não dá para ficar somente um ou outro.

– Pô, legal saber disso – tive uma pontinha de orgulho. – Pelo menos não apareceu por aqui nenhum "vampirilampo", daqueles que brilham no sol – rimos juntos. – Só teve vampiro old school.

– Nos anos que venho trabalhando aqui, tenho visto modas surgirem e morrerem. Essa onda de vampiros adolescentes bonzinhos já está passando. Um mito tão rico e longevo não terá sua imagem arranhada por conta disso.

– Com certeza. Olha, mais uma vez, meus parabéns pela loja – apertei sua mão e dei-lhe um tapinha no ombro. – Eu tenho mesmo de ir, senão ficaria mais um pouco. Ia comer um sanduíche, nem vou mais. Vou correr pra palestra, que já deve estar rolando, e torcer pro pessoal não me dar uma carcada por causa dessa pisada na bola.

– O senhor pode fazer sua refeição com calma, pois garanto que terá tempo para isso.

– Será?

– Sim, sim, pode acreditar. Antes de ir, gostaria de oferecer-lhe esta edição especial, sem custo algum – dizendo isso, estendeu-me um livro de capa dura.

– Eu agradeço muito, mas esse eu já tenho na minha coleção. Não precisa esquentar a cabeça com presente pra mim, não. Só a experiência de estar aqui já valeu a pena!

– Mas eu faço questão. O que acha deste? – perguntou, puxando outro livro de trás do balcão.

– Também tenho.

Por alguns minutos, ele foi tentando oferecer livros e revistas de histórias em quadrinhos, mas eu já possuía tudo aquilo. Como não tinha tempo a perder, mas não queria destratar o livreiro, decidi fazer uma proposta inusitada:

– Vamos fazer o seguinte: – falei, fuçando na minha bolsa – eu é que vou oferecer um presente a você. Fique com estes gibis. Eu ia sorteá-los entre o pessoal da palestra, mas vou oferecê-los como um agradecimento à diversão que tive aqui.

– Não sei se devo aceitar – o senhorzinho estava sem jeito. – É algo tão incomum...

– Que é isso? Aceite, porque é de bom grado.

– Tudo bem. Sou muito agradecido. Esta foi uma conversa muito aprazível. Foi um prazer conhecê-lo, senhor Adriano – ele apertou novamente a minha mão, notando minha pressa.

– O prazer foi meu. Meus parabéns pela Livraria Limítrofe, ela é demais. Bem, vou nessa. Tenha uma adorável noite!

Acenei em despedida e subi apressado as escadas de saída do porão. Os degraus não rangiam mais. Olhei as horas no celular e percebi que o livreiro havia dito a verdade: dava tempo de lanchar antes de voltar ao evento. Acho que o tempo parou lá dentro, viu? Doido, né? Queria ver aquelas vampiras dançarem como no filme Um Drink no Inferno. Quem sabe numa próxima vez...

Fui, mandei um sanduba com refrigerante e voltei a tempo para a palestra. Ao passar pela entrada do local, nem fiquei espantado ao ver que o porão não existia mais. A palestra rolou normalmente e a conversa com a galera me fez esquecer temporariamente da experiência na livraria.

Ao chegar em casa naquele dia, procurei que nem doido na internet algo sobre a Livraria Limítrofe. Nada. Fiquei bem quietinho e não falei pra ninguém sobre o que vivenciei lá. Só estou dando este depoimento agora porque sei que você não vai me chamar de louco. Estou certo, não estou? Então beleza. Foi isso. Será que um dia eu consigo voltar lá? Vai que eu encontro a Buffy, a Miriam Blaylock ou a Carmilla...

13 comentários:

Adriano disse...

obrigado pela homenagem alfer e apreciei e gostei muito a história e recomendo! :-)

Alfer Medeiros disse...

Valeu, Adriano.
Eu agradeço por ter permitido utilizá-lo como personagem.
Abraço.

a fantasista disse...

Legal, já ta na minha pasta, vou ler. :]

Susy Ramone disse...

Rsrsrsrsrs!!! Ah ri muito!!!! Vampirilampo! kkkkkk!!!!
bjs!

beronique disse...

Quero ler (vou), ehehe! Vamos ver o que o senhor desta livraria porreta aprontou, ^^

beronique disse...

Ahahaha, vc sempre me fazendo rir, hein, senhor Alfer!! Tá bestial o conto, ri à beça, show as referencias dos 'old times' e o toco nos vampirilampos (ahuahuhaa!!), essa eu vou espalhar por ai, rs. Quero ler mais histórias, lança logo, lança logo!! ^^

Alfer Medeiros disse...

O termo "vampirilampo" é coisa do próprio Adriano! rs

Valentina Silva Ferreira disse...

Adorei :D Quero ler mais. Vampiro português... e a cantar fado ahahah.

Um beijo,
VSF.

Parreira disse...

Quando é que o Parreira aqui vira personagem tb? rsrsrsrsrsrs

Carolina Mancini disse...

Haha, é bom mesmo esse "capítulo".
Alfer, parabéns novamente.

William Duarte disse...

Muito bom!
Não sou exatamente um fã de vampiros, mas amei o capítulo!
Inclusive agora até que fiquei curioso para conhecer um pouco mais sobre vampiros! E admito que tive de pesquisar algumas das referências no Google (é, queria ver as vampiras citadas).
Ah, e claro, abri o maior sorriso com uma declaração do Livreiro: "Essa onda de vampiros adolescentes bonzinhos já está passando." Que passe e passe LOGO!
Enfim, não vejo a hora de poder ler o livro, parabéns pelo trabalho!

Graziella Mafraly disse...

Quando li o capítulo do Livreiro, seu livro já foi para minha lista de aquisições... mas depois de ver o bom humor do seu capítulo extra... vou ficar doente!
Adoro escrever, mas ler sempre foi uma paixão.
Você escreve gostoso, o que faz a leitura fluir "levinha". Amei!
Parabéns Alfer!

Alfer Medeiros disse...

Obrigado, Graziella! Todas as características que você citou foram motivo de estranhamento por parte de alguns leitores que me conheceram através do Fúria Lupina! rs

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